Churrasco de Carnes

É curioso a forma como certos cheiros e sabores, ficam gravados na nossa matriz … como nos transportam para situações passadas e nos lembram pessoas marcantes nas nossas vidas.
Aquele cheiro dos figos maduros…hum… subíamos às figueiras  para os apanhar às escondidas do meu tio-avô e  acabávamos a fugir das vespas que andavam atrás do mel dos figos 😛
Esse cheiro que me leva de volta aos almoços de Verão debaixo daquela figueira gigantesca, que viu nascer duas gerações da minha família e nos abraçava com a sua sombra monstruosa, mitigando o sol do meio-dia.

As memórias desses momentos são o que molda o nosso ser, fazem de nós mais que meros expectadores da vida que passa à nossa frente. Por isso vou dar-vos uma sugestão, aproveitem este raro sol e saiam, peguem nas vossas famílias; nos vossos amigos; nas(os) namoradas(os) ou amantes…. partilhem-no debaixo dessa figueira ( eu acredito que todos temos uma árvore assim… uma figueira, um carvalho ou uma azinheira…).
Como sempre o melhor é mesmo partilhar tudo isto à mesa, vamos buscar  umas carnes e pô-las numa braseira… só aquele perfume da madeira a queimar e depois o da carne a cozinhar … hum …
O que vamos fazer é reunir uma selecção de algumas carnes:

– Costeletas de porco da zona do cachaço ( tenham o cuidado de escolher carnes com algum índice de gordura, para que não fiquem secas, e não deixem de comprar carne certificada é um pouco mais cara, mas faz toda a diferença!);

– Frango;

– Costeletas de novilho ( mais uma vez … não tenham medo da gordura! A carne de pasto que não tem hormonas tem um índice de gordura saudável e que facilmente se escoa no churrasco, dando um sabor mais intenso e agradável à carne… façam a comparação  com uma carne corriqueira e não certificada e tirem as vossas conclusões!);

– Coelho;

Para estas carnes vamos precisar de :

– Sal ( usem sal marinho de boa qualidade);

– Malagueta (seca e moída);

– Estragão (ver Prateleira de Especiarias…);

– Alecrim fresco;

– Azeite;

– Alho;

– Mel;

– Cerveja preta;

O que vamos fazer primeiro é cortar o frango e o coelho em quartos ( se tiverem miudezas reservem), de seguida vamos preparar uma marinada, juntando numa tigela : 4 colheres de sopa de azeite; 1 colher de chá de malagueta moída; 1 colher de sopa de mel; umas folhas de estragão (desfaçam com as mãos); sal a gosto; 1 dente de alho picado e cerveja preta… misturem tudo muito bem de modo a obter uma mistura homogénea.
O próximo passo é colocar o coelho e o frango num tabuleiro onde os vamos pincelar com esta marinada …deixem a marinar durante 1 hora no frio. O frango e o coelho vão ficar super macios e com um paladar fantástico! Na hora de por tudo na grelha ( guardem as miudezas para o fim, ficam prontas em 5 minutos…pincelem com uma pouco de marinada e ponham na grelha… é fantástico.) , vamos temperar as costeletas de porco e novilho  com sal grosso –  nestas carnes é importante que o sal seja só posto no momento da confecção para que não salguem – deixo-vos a ressalva de que só no porco é que vamos por alecrim fresco, isto porque é uma carne que aguenta muito bem o forte aroma desta erva, que, com a confecção vai perfumar a carne. No caso do novilho vamos só deixar com o sal – se forem carnívoros como eu, entenderão que numa carne de bovino de boa qualidade o melhor tempero é a própria carne! – ponham as carnes numa grelha alta em relação às brasas, isto porque caso contrário vão ficar queimadas pelo lado de fora e pouco suculentas… não tenham pressa… deixem cozinhar lentamente. Os argentinos que são mestres do churrasco têm um ditado : ” As pessoas esperam pelo churrasco e não o contrário”. Em relação à maioria das carnes deixem passar … no que diz respeito ao novilho… eu deixaria a carne a ponto… com um toque rosado no seu interior.
Acompanhem com cebolinhas grelhadas na brasa e uma salada leve… o protagonista é a carne 🙂
Brindem a este sol  com um bom tinto ribatejano… um Guarda-Rios de Vale d´Algares, um vinho com complexidade e carregado dos perfumes da lezíria, uma companhia perfeita para brindar à vida!
Deixo-vos com este fado do Camané…

Divirtam-se e aproveitem este sol!

Diz que é uma espécie de prefácio :P

Após uma breve nota de boas vindas a todos, achei por bem publicar aqui em jeito de prefácio para este blog, um texto da minha querida amiga Eliana Cristóvão que lá conseguiu arranjar um bocadinho para escrever para nós …enjoy!

“A arte de cozinhar não é um dom, mas um gosto. O paladar de apreciar, de brincar com os alimentos.
Para muitos chefs credenciados ou amadores é um arco – irís de vitalidade, no fim encontramos o pote de ouro, na satisfação de quem saboreia…

Podemos descrever o processo como de um quadro a aguarela, uma música ou um perfume se tratasse.
A Cozinha é apurar dos sentidos… o cheiro, o olhar, o tacto, o ouvir, o cheiro… reparem como tudo está interligado. È fácil observar todos os sentidos nesta arte.

E a cada apagar do lume há uma personalidade garantida. Não só de cada mão, mas a aventura dos alimentos está também em cada história, numa cultura de um povo!

E a terapia que pode advir do prazer de realizar algo, a descontração, o relaxamento de juntar aquilo e mais aquilo, a diversão do agri-doce!”